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sicastenia, s. f. Fraqueza intelectual; Psicose causada por fases de medo e ansiedade, obsessões, idéias fixas, tiques, auto-acusação, convergência de emoção e depressão.

 
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30.9.03

querida "seu nome aqui",

foi depois daquele beijo que eu fiquei
sem saber o que fazer. seu cheiro ainda
continua comigo, e vai continuar por muito tempo.
sei disso.
sei que sempre sentirei.
- se realmente não fosse nada, não teria motivo
pra ficar arrepiado quando sente o perfume.
e só de fechar o olho todas as imagens possíveis
(suas) aparecem na minha cabeça, como se nada
mais fosse acontecer.
é tudo complicado demais, eu sei. tudo me parece
cinza agora.
mas há razão para pensar que as coisas também
tem relógios.
mesmo que nada realmente aconteça, sei o que é
ter medo.
e sei que solidão é diferente pra todo mundo.
é tudo muito cheio de clichês. eu não acreditava nisso.
nunca pensei que tantos deles fossem verdade.
não tem graça falar.
ansiedade. várias coisas.
"mais um café, por favor."
é tudo ao mesmo tempo. saudade.
eu ainda consigo olhar pra você sem mostrar como
realmente estou. o problema é por quanto tempo.
não sei mais o que dizer. queria ter mais facilidade
com as palavras, pra poder dizer melhor as coisas
pra você. não que isso fosse facilitar alguma coisa, muito
pelo contrário. mostrar é complicar.
- acho que você já sabe disso.
me sinto mal. "lágrima derramada não conta segredo."
se contassem, nem mesmo assim saberia como estou.
mas tem coisa que não tem muita importância, embora
você sempre diga que sim.
é que pra tudo dou um jeito de me esconder.
só não queria ter que ir embora. já ouviu?
"as horas passam sem o tempo passar."
queria poder ficar mais.
com você.
pra poder me sentir melhor.
ou apenas sentir.

sinceramente, eu.

29.9.03

ele tentou.
jura que se esforçou. e hoje
só pede desculpa. pede perdão
por sua fraqueza. mais uma vez.
talvez não seja realmente uma
fraqueza. talvez seja uma coisa
que não dê pra controlar.
[ parece tudo uma brincadeira ]
sem querer as coisas vão acontecendo.
e elas acontecem devagar, assim
como a arte de vagar.
- não adianta correr não.
o importante é prestar
atenção.

se fosse fácil, que graça teria?
ele sabe que não sentiria o que sente.
da forma como sente.
ou não sentiria.
"e o outro lado?"
o lado de lá é sempre mais complicado.
aí é que não tem controle mesmo.
// controle nem sempre é bom não.
as frases continuam sempre as mesmas.
- são histórias ou não?
não me importa mais.
acho que as coisas se misturaram
faz tempo. não dá pra saber quando foi.
[ procura nas entrelinhas ]
nas lacunas. aí é que se acha alguma coisa.
ele tentou.
"mas os pensamentos só me carregam
até você."

28.9.03

eu olhei pra ela durante umas cinco horas,
aproximadamente.
cinco?
é, porque não dava pra ser menos.
[ será que ela sabia? ]
será que ela sabe né.
"se tudo está tranquilo,
tudo está em seu lugar."

às vezes tenho que discordar dessa frase.
até porque estar e parecer são coisas
completamente diferentes.
- mas aí não se lembra das coisas.
mas diz coisas como se lembrasse.
e também tem as coisas que parecem estar
fora de contexto.
o problema maior sou eu mesmo.
pra citar uma velha frase:
"não adianta se esconder
atrás das barreiras criadas por você."

o disco não sai daquele aparelho.
[ ele não consegue tirá-lo de lá ]
a verdade é que não quer parar de ouví-lo.
são doces demais.
- mas lágrima é salgada, não é?
é salgada sim. mas é pra isso mesmo.
equilíbrio.
ela não poderia ser doce.
o sal causa alguma sensação interessante.
se fosse outra pessoa não ia perdoar não.
mas ainda tem gente que não liga pra isso
de perdoar ou não.
não é essa a questão.
// guarda tudo.
pra você só. assim ninguém liga.
mesmo fazendo brincadeira,
levar a sério é outra coisa.
até que vem a pergunta de sempre na cabeça:
"mas por que?"
e a resposta é sempre a mesma:
"porque é o destino."
você acreditando ou não. você nunca vai
escolher nada, não espere por isso.

tem gente que acha que sorrir é sorrir mesmo.
só rir.
várias vezes eu tentei entender as coisas, mas
simplesmente não dá.
há coisas que não são pra entender.
[ você só sente elas ]
e tenta sentir cada vez mais.
e pra que se esconder? sabe-se que o passado
não vale a pena contar.
as referências estão sempre lá.
[ me parecem cordas amarradas nas pernas ]
e essas cordas sempre remetem a alguma coisa.
puxam de volta.
coisa: às vezes triste, outras nem tanto.
mas o importante mesmo é que está lá, e você,
melhor que ninguém, sabe disso.
mas não sabe uma coisa:
- isso é triste.
talvez mais pra outra pessoa do que pra você mesmo.
aí não tem escapatória. só rindo mesmo.
sorrir.
brincando, sempre.
e muitas, muitas vezes fingindo até mesmo não estar
ouvindo, quando se presta atenção em cada palavra
solta por você, no ar em que nós dois respiramos.
[ eu tento, pelo menos ]
aí depois pensa-se até em chorar em algum quadrado,
mas não pode. "não pode."
ah, mas se pudesse.
não sei de muitas coisas não, mas tem coisa que eu tenho
que concordar. seja com quem for.
[ ela não concorda não ]
são cordas demais. isso atrapalha.
mas ela pensa que não. aliás, acho que nem pensa.
porque se pensasse mesmo, daria um pouco mais de atenção
as coisas. mínimas.
eu também posso fingir.
"e fingir que ela não entende nada não vale."
mas tem hora que é difícil de aguentar.
- mas aí você ri de novo.
percebe o olhar; ela percebe.
os dois fingem bem. ou pelo menos um deles.
e ainda tem aquele música que sempre vem
à cabeça, nos momentos mais melancólicos.
// a verdade é que eu não teria motivos reais
pra pensar nessa música, mesmo que amasse tudo o que
envolve ela.
mas mais uma vez, não consigo. e quem consegue?
ela.
porque não tem nada a ver.
mas é que só quem passou (passa) por isso
sabe como é. e tudo parece que vai dar errado, mas no fim das contas
todo mundo tá rindo e se divertindo.
[ mesmo que essa felicidade seja plástica ]
não dela. minha.
tem gente que acha que sorrir é sorrir mesmo.
nem tudo é tão verde quanto parece.

26.9.03

era pra ser um dia como outro qualquer,
não fosse a forma como o observou.
[ quando se diz saudade, sabe-se que
esta palavra é complicada ]
e mesmo a forma como olhou cada detalhe
de cada nova velha esquina foi surpreendente.
sabia que poderia se jogar do último andar
daquele prédio. mas essa não foi sua opção.
// não condiz.
e por que resistiu até o fim?
bom, não se sabe. talvez resista sempre.
o que é mais usual que andar pra lugar nenhum?
se fosse pra lembrar talvez seria mais fácil.
mas não.
eles sabem que não mostrar é melhor.
não fazer nada.
[ vamos deixar pra depois ]
ou talvez deixar. só deixar.
pra lá.
ninguém mais sabe olhar. pra nada.
o olho é pequeno mas vê as coisas sim.
[ e nem aquele quadrado preto interfere nisso ]
mas ela já sabe, talvez até melhor do que ele,
que basta um olhar pra que tudo possa se
transformar. (tentar enxergar)
ele não sabe não. ou talvez saiba, e só faz os outros
pensarem que não.
ele sabe sim.
e cada detalhe, por menor que seja, ele percebe.
são novas descobertas. repetidas.
todas as fotografias de todos os momentos
estão na sua cabeça.
[ a memória é a melhor das fotografias ]
e por isso cada imagem que lhe vem a mente,
cada pedaço de tempo é guardado com muito
cuidado.
essas peças vão formar alguma coisa.
em alguma hora.

recordação ao mesmo tempo triste e suave
de pessoas ou coisas distantes ou extintas,
acompanhada do desejo de tornar a vê-las
ou possuí-las; pesar pela ausência de pessoa(s)
querida(s); nostalgia.


nem sempre.

25.9.03

"eu pensava que essas coisas fossem passageiras.
uma vez sumiu. então tive certeza que era passageiro.
mas voltou. mais uma vez voltou.
e não sei o que fazer."

tudo parecia mesmo coisa sem importância.
[ muito embora da primeira vez havia passado
várias noites chorando ]
mas agora é serio.
sério?
ninguém vai perceber não. ou talvez
um ou outro. mas ninguém vai ligar de verdade.
isso é o melhor de tudo. e pra você talvez isso
seja o melhor mesmo. você está bem assim.
não.
você parece estar bem assim.
é isso que importa. é isso que sempre importou.
aparência vale mais do que a verdade.
ou você acha que não?
preste atenção à sua volta.
"que loucura."
deixa passar, mais uma vez.
nem que seja pra voltar, mais forte que a segunda.
não se aproxime dela.
[ você sabe que o melhor a fazer é não fazer ]
brincadeira tem limite.

ele observava a sala como alguém observa sua caixa de brinquedos.
tinha passado tanto tempo e tudo ainda fazia muito sentido.
[ pelo menos pra ele ]
estava escuro. a cortina vermelha permanecia fechada,
mesmo após muito barulho. um barulho infantil.
haviam duas crianças. o menino, usava óculos.
parecia um pouco voado. a menina, tinha um cabelo
muito bonito, negro. olhos grandes também.
eles brincavam inocentemente. ela, sem perceber,
olhava para baixo, não dando muita importância
para o menino.
ele, porém, fingia brincar e rir, quando escondia
uma profunda tristeza e um olhar vago.
quando ela tentava algum tipo de olhar,
ele, vulnerável, sorria quase que mecanicamente,
como se esta fosse uma de suas formas de chorar.
apesar de congelado, conseguia enxergar nela a maior
beleza já vista. nenhum brinquedo o agradara tanto como
a forma que ela dizia as coisas, sem preocupação. soltava
palavras de todo o tipo, e mesmo aquelas que o magoavam, eram
as mais doces já ouvidas por ele.
// no exato momento (um dos poucos) em que ela lentamente levantava
seu olhar, uma lágrima descia.
[ era sempre um problema aqueles óculos pesados ]
nesse instante, ela percebia tudo o que havia acontecido
durante todo esse tempo. a inocência de todos os inúmeros
segundos ali, se transformava em conflito, mesmo que este
fosse apenas interno e, portanto, imperceptí­vel.
fingiu.
mesmo que essa fosse sua única chance.
todas as noites, retirava seus óculos.
colocava-os na estante e se deitava.
repetia inúmeras vezes para si mesmo:
[ até dormir ]
eusempresentiseugostoeusempresentiseugosto
eusempresentiseugostoeusempresentiseugosto
eusempresentiseugostoeusempresentiseugosto
eusempresentiseugostoeusempresentiseugosto
eusempresentiseugostoeusempresentiseugosto
eusempresentiseugostoeusempresentiseugosto

22.9.03

duas e meia am [dia dois] - "vi ela com um rapaz,
estavam num carro e resolveram
parar pra tomar café."
bip. a secretária eletrônica desliga.
cinco e vinte e um. am [dia sete] - eu não posso acreditar,
foram 26 longos anos.
todas as manhãs eu me via mais completo, renovado.
mas a seriedade da mensagem não mentia.
três em ponto pm [dia vinte e três] // a verdade é que
eu mesmo deixara a mensagem.
fiz isso para me testar.
sofro de confusão mental.
[ às vezes esqueço toda a minha vida num segundo ]
onze e cinquenta e quatro pm [dia quinze] - eu não sou casado.
não tenho sequer namorada.
eu acho que nunca tive. é melhor pensar assim.
não não, eu realmente nunca tive.
oito e trinta e um am [dia vinte e quatro] - porque fiz isso?
talvez isso tenha acontecido.
eu não tenho secretária eletrônica. (a não ser a escritório)
quatro e meia am [dia dois] - um quarto de hotel (motel?).
as luzes de neon brilham na janela enquanto uma mulher me acorda.
[ seria algum tipo de prostituta? ]
diz não entender.
ela se veste vagarosamente, como se não soubesse
que estou olhando pra ela.
me lembro dela. de várias outras oportunidades.
ela sai.
quatro e vinte pm [dia um] - um carro.
meu carro. "vamos tomar um café?"
não diz nada, mas seus olhos aceitam.
[ é claro que momentos antes fui pulverizado por
inúmeras obcenidades. ela mesma ]
paramos. ela desce sem que me deixe (fingir que quero)
abrir a porta para ela.
pedimos dois cappuccinos. grande.
dois e trinta cada.
eu encosto a mão na dela. "tem cartão telefônico?"
telefone público é melhor. ninguém identifica o número.
não tem ninguém em casa.
deixo um recado na secretária eletrônica.

21.9.03

ah, os tempos de criança.
tosse de sempre.
levantar as calças antes de sentar.
o braço ficou curto.
"o médico é hoje as três"
// eu tenho medo
de cair da cama
os ossos estão fracos?
- onde foi parar?
[ a graça das coisas ]
remédio, é claro
azul, verde.
tinha aquele vermelho também
> cadê meus óculos
se foram. você se foi
e ninguém mais quer saber
nunca vão (?) se importar
até que um dia você se vê
cansado,
sentado numa cadeira
// longe de todo mundo
que um dia você fez crescer.

20.9.03

hoje eu acordei as seis e quarenta e três da manhã.
abri minha gaveta de roupas. de camisas e camisetas, pra ser mais específico.
peguei a primeira camiseta que vi e quando estava vestindo-a, percebi que a gola dela era em "v".
retirei na hora e peguei outra. também tinha gola em "v". comecei a retirar todas as camisetas da gaveta.
todas tinham gola em "v". eu odeio gola em "v" e, pra ser sincero, nunca comprei ou ganhei uma camiseta assim.
então percebi que alguma coisa tinha acontecido. era muito estranho todas as minhas roupas estarem assim.
não me restava outra opção senão pegar uma tesoura e a cortar as camisetas. piquei todas.
o pano de cada uma cobria o quarto quase que inteiramente.
era bela a cena de várias cores fazendo parte de um piso velho e sujo.
depois disso voltei pra cama. me deitei. e retornei ao sono.

" fraqueza intelectual
// psicose caracterizada
por fases de medo e ansiedade
obsessões
idéias fixas
tiques
auto-acusação
convergência de emoção e depressão "

19.9.03

eu só queria dizer
que pra ter o que você diz que quer ter
não é preciso se esforçar muito.
o maior problema mesmo é o conflito
// ah se soubesses que toda manhã eu derrubo café na roupa
propositadamente só pra você notar
não terias ido embora da forma lenta como foi.
não me admira ver os ponteiros do relógio parados
porque cada passo que dá parece já ter sido dado
eu sei. você só pensa que sabe. ironia bate e volta.