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sicastenia, s. f. Fraqueza intelectual; Psicose causada por fases de medo e ansiedade, obsessões, idéias fixas, tiques, auto-acusação, convergência de emoção e depressão.

 
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30.11.03

sentamos.
enquanto isso as crianças
jogavam bola.
"aquele de cabelo comprido
é o melhor", indagou uma criança.
e o tempo passava, lentamente.
o céu caia e tudo ficava branco.
- névoa.
as estrelas subiam e a felicidade aparecia.
combinações esquisitas - talvez verde e preto.
pois é.
alegria, alegria.
saudade, um monte de coisa.
eu fico calado mas eu penso
em um monte de coisa.
tudo, é claro, tem a ver com você.

[ os meninos recolhem seus pertences.
vão embora ]
e aí o que sobra?
um sorriso por aqui. um abraço.
"que vontade de te ver."
domingos coloridos, que raro.
e por menor que seja o tempo
em que ficamos juntos, eu me viro.
a gente ri de ponta a ponta.
mesmo que seja por dentro.

é. você consegue tudo.

você conseguiu.
- agora eu sei como é um choro de alegria.

é que ninguém nunca
me escreveu algo assim.
algo tão bonito, tão sensível.
e tão só nosso.
às vezes eu gostaria de
fazer que alguns momentos fossem
pra sempre.
como aquele abraço.
"desculpa te abraçar tão forte."
mas naquela hora eu queria ser seu.
ser você.
são as lágrimas mais doces que já senti.

eu também te adoro.
nos seus sonhos e junto de você.

29.11.03

"isso é tão ele."
e o que seria muito eu?
pra mim, é você.
aquele disco?
não, não vou mais ouvir.
pra mim perdeu.
lembrança da lembrança.
"esquecer assim não é
tão fácil, ainda mais
quando ele escuta esta canção."
eu queria saber não ligar
pra certas coisas.
e queria ter algum disco,
talvez apenas uma música
que fosse tão eu.
e que talvez um dia, quando a
ouvisse, lembrasse de mim.
e tivesse saudade.
ou apenas pensasse em algum
momento importante. ou especial.
ou apenas pensasse em mim.
há tantas coisas pra sorrir?
sim, há.
é como se você levantasse
da cama e sensivelmente lesse
uma carta, um bilhete.
e aí então comessasse a chorar.
- no banho ele cantava uma música.
e as paredes ouviam apenas lamentos.
você só ouvia felicidade.
e um sorriso meu.

23.11.03

prometo não prometer mais nada.
prometi pra você.
não poderei cumprir.
me desculpa.
prometi que não gostaria tanto
assim de você.
não pude cumprir.
prometi que ontem, na minha cama,
não choraria.
também não pude cumprir.
- choramingando até as três e vinte.
mas eu espero.
eu espero que algum dia você me entenda.
entenda porque eu gosto tanto assim
de você.
- não precisa se assustar. eu também
não esperava por isso.
mas é assim.

é assim.

me desculpa.

22.11.03

eu pensava que sabia o que
era gostar de alguém.
o que foi isso?
- especial.
só escreve coisa triste?
não condiz com outra coisa.
- condiz sim. condiz com você.
ah você. eu me perdi.
não chora, você não pode ganhar
de mim.
- o sentimental aqui sou eu.
me preocupo. até comigo mesmo,
por não esperar que as coisas
fossem ser assim.
tão bonitas. tão perfeitas.
quantas vezes você segurou
pra não chorar?
mesmo que seja de felicidade.
- eu poderia passar o dia todo
chorando e mesmo assim não
poderia te mostrar o quão feliz
estou.
aí você vai mais uma vez
e tudo fica cinza.
- mas por favor, deixa seus
cabelos ali. pra mim.
"não fica assim."
e de que outra maneira
eu poderia ficar?
"eu volto."
ainda bem. porque eu já vi que
não consigo mais ficar sem você.
e aquele diálogo era verdade:
- está apaixonado, né?
- estou.
mais do que você pensa.
e agora?
bem, obrigado.
mais uma vez, muito obrigado.

19.11.03

- não, não chora.
cara triste.
insignificância.
- todos eles são melhores.
o que sobrou de mim?
- que demais.
"você não é tanto.
não é o suficiente."
infelizmente sei.
o melhor que posso ser?
bom, há melhores.
te garanto.
[ você sabe disso ]
eu me esforço.
tantos outros.
eu, o menor de todos.
coloca os óculos em cima da mesa.
enxuga os olhos.
estranho é você olhar o céu
e sentir vontade de chorar.
por favor, lembra de mim.

- não precisa me abraçar,
só me deixa ficar abraçado
em você. eu preciso disso.

a dor?
a dor é ver você indo embora,
de costas pra mim.

por favor, não esquece de mim.
nunca.

18.11.03

os naipes estão em posição.
do décimo andar eu escuto
o ensaio da fanfarra.
- que melodia triste.

o ar quente transpira melancolia.
eu transpiro saudade.
nunca andei tão sensível.
desenhos feios, coloridos,
canções multi coloridas.
notas tortas.
- e agora?
sobraram apenas alguns
fios de cabelo por toda a casa.
- e é claro, o seu cheiro.
no prato o resto, o copo vazio.
a casa oca.
só se ouve a marchinha tocada
pela fanfarra.
eles precisam ensaiar mais.
- e quem não precisa?
triste tarde.
te vejo e depois não.

é como diz o sábio:
"todo carnaval tem seu fim."
a fanfarra terminou seu ensaio.
mas o carnaval ainda mal começou.
e amanhã tem mais.
mais pra você e pra mim.
mais pra nós dois.

17.11.03

certas coisas são muito complicadas,
não era pra ser assim.
- porque você tem que ir mais uma vez?
- porque tão cedo?
- porque não podemos ficar aqui só nós dois?
- porque temos que nos preocupar?
temos que nos preocupar?

você vai. você sempre vai. não é culpa sua.
e não é culpa minha.
você as vezes fica de um jeito tão ruim.
isso me mata. eu gostaria de ser mais pra você.
gostaria de poder te ajudar em tudo,
resolver todos os nossos e, principalmente,
os seus problemas.
fazer você sorrir quando a vontade é outra.
mas eu sou apenas eu.
- tão pequeno com roupa de criança.
tão pequeno diante de você.
o que eu posso fazer?
eu apenas gosto de você.
[ agora me torno grande ]
pelo menos pra poder imaginar o tempo
passando e eu cada vez maior em relação
a isso.
açucar no fundo do copo.
você no fundo do coração.

falo de mim igual criança.
gosto de você igual gente grande.

16.11.03

- fecha a janela, vai. tá ventando muito.

pra que fechar a janela se a saudade
já invadiu minha casa?

- eu queria mesmo é que você estivesse aqui,
você sabe disso.
- é, eu sei, mas...
- o pior é esse monte de coisa.
- é.

qual o motivo de serem tantos assim?

- se lembra dele?
- me lembro, mas agora só de vez em quando.
- eu não me lembro dela.
- eu não tenho outra opção.
- e eu que ainda me preocupo com ele?
- por acaso você disse ciúme?
- não. eu sou sozinho, você não.

droga. o café está gelado.

- me passa o açucar.
- me passa a manteiga.
- é tudo tão simples assim pra você?
- ora, você que se tornou....
- desculpa, eu só gosto muito de você.

que música triste.

- por favor, para de chorar.
- desculpa.
- para de pedir desculpa, você não fez nada.
- eu peço desculpas a mim mesmo,
por ser tão sensível assim. e por gostar tanto
de você pela segunda vez.
- mas eu não entendo.
- não é pra ninguém entender. nem eu mesmo entendo.
mas aquilo até mesmo eu sabia.

"ele tá sempre atrás dela."

- é. eu sempre achei que ele sentia alguma
coisa por ela.
- não se preocupa. ela gosta de você.
- eu espero.

espero.

15.11.03

pelo menos por aqui, a tarde é fria.

- sente-se.
seleciona dois compactos na estante.
coloca pra tocar.
começa a lembrar onde tudo começou.
e como eram bonitas as palavras.
e como eram bonitas as tristezas.

- hoje eu não consigo mais dizer coisa bonita.
- é, seus desenhos me parecem tão feios agora.
- desculpa, estou calado hoje.

- nada.
- pelo menos hoje o amor é maior.
- você não sabe nada.
- aqui eu falo o que eu quiser.

"falo com você que fica a me olhar pela última vez."

- quantas canções, han?

todas são você. e hoje um pouco de mim.
um pouco da gente.
e não é só pra ter o que contar.
é porque eu gosto de você.
direto.

13.11.03

- é que hoje eu sinto vontade de chorar.
- o motivo?
- precisa dizer?
- hum.
- desculpa. eu sou muito sensível e principalmente,
eu estou muito sensível.
- mas você....?
- sim, várias noites. depois passa e eu durmo.
- e acorda bem?
- acordo, não tenho muita escolha.
- ou você sorri....
- ou eu te perco. eu sei. não vai mais acontecer.
- pra que servem os relógios?
- tanto faz. no momento pra nada.
- é, tem razão. para então de tentar controlar o tempo.
- eu paro assim que você me der um beijo.

- boa noite.
- boa noite.

clic.

12.11.03

- vamos, eu desço com você até o metrô.
e que calor.
- eu queria mais tempo. mais tempo pra ficar com você.
é complicado, eu sei disso.
a cidade é maior do que eu.
- ah, sabe a máquina de tirar fotos? então, nove reais.
- caro.
- mas é maior.
polaroid.
me dá um beijo agora. guarda o outro pra depois.
eu deixo a saudade de molho.
quero perder meu tempo em você.
- desculpa.
o trem se foi.
ela partiu.

10.11.03

sentado isoladamente num sofá cor-de-rosa.
- eu sou a morsa! - grita o rapaz.
[ por favor, não se demore ]
faça um álbum de fotografias nosso.
- vamos colecionar aquelas três por quatro,
daquelas máquinas?
- claro.
cada dia se inventa uma coisa.
risadas no fundo de uma caixa, notas musicais.
circense.
sobrancelhas levantadas conotando surpresa.
- veio enlatado né?
- veio, aqui diz: válido durante trinta dias.
- estranho, essa validade não condiz com o sabor
das coisas.
- é assim mesmo, validades não servem pra nada.
[ toca o violino ]
- o meu bigode está crescendo rápido, já bate no queixo.
as duas finas pontas.
- engraçado você dizer isso, pois meu chapéu
tem três pontas. em cima dele um detalhe amarelo.
- o que são essas vozes?
"você diz sim e eu digo não.
você diz adeus e eu digo oi."

não sei o motivo.
mas tudo soa maravilhosamente bem.
- que alegria!
como ele disse mesmo?
"se tem bigodes de foca, nariz de tamanduá
e orelhas de camelo."

- tio, é legal ter alguém assim?
- é maravilhoso!
e as risadas agora não param mais.
a música fica mais alta, as frases se repetem,
e tudo fica colorido.
damos as mãos e começamos a dançar no meio do sala.
o telefone toca e nem sequer prestamos atenção.
derrubamos as taças de vinho no tapete.
acordamos as nove da manhã com dor de cabeça.

- tudo ao contrário.
tente entender tudo isso, mas se não entender, feche seus olhos
e saia um pouco da sua cadeira, seja mais leve do que você é.
nada é real. só nós dois.
os seus beijos.
[ mais um filme em 16 mm ]

9.11.03

- entre, entre.
[ dizia o mágico ]
então peguei meu chapéu, coloquei na cabeça
e resolvi entrar.
"vamos ver no que dá."
era um ônibus muito colorido. sentei do lado dele,
que ligava o ônibus.
- não se preocupe, é tudo muito seguro.
ao dar partida, uma fumaça de inúmeras cores saíam
do escapamento, dando início a uma viagem misteriosa.
- qual o destino, capitão?
- vamos para a cabeça dela, se esqueceu?
- tem razão.
e ele tinha razão. realmente estávamos ficando cada vez
menores para podermos entrar na cabeça dela.
ela dormia, pois já era tarde.
[ o mágico: vestia uma enorme roupa vermelha e ostentava
uma grande barba ruiva ]
eu sorria mas percebia que também tinha
uma barba castanha, muito grande. vestia uma roupa azul.
então fomos em direção a seus olhos que, por um segundo,
se abriram pelo efeito da mágica e possibilitou nossa entrada
naquele mundo até então jamais explorado.
lá dentro, algo jamais visto por mim.
cores e mais cores, coisas brilhantes, luzes e uma vibração
que transmitia uma sensação de leveza e carinho.
estavámos finalmente em sua mente, um lugar incrível.
de repente, fomos abordados por um som extremamente alto e,
nas paredes, viamos inúmeras imagens, de variadas cores.
- não se preocupe, ela está sonhando nesse exato momento
dizia o mágico rindo da minha cara de preocupado.
então pousamos em seu cérebro e descemos.
lá, haviam muitas bandeiras, fincadas em diversos pontos.
vários nomes e, para cada nome, uma bandeira de um tamanho e cor.
procurava uma bandeira com meu nome mas infelizmente não encontrei.
[ nesse momento várias músicas começavam a surgir e as imagens
ficavam cada vez maiores e mais assustadoras ]
era confuso demais pra mim. eu me sentia com náuseas e tentava entender
o que se passava dentro da cabeça dela.
finalmente consegui perfurar seu cérebro e infiltrar num espaço que
haviam vários dias de um mês.
dias ensolarados, dias chuvosos, dias.
cada um tinha uma música e uma imagem que se repetia inúmeras vezes.
eram as lembraças que ela guardava desse mês, à sua maneira.
do seu jeito. nessa hora eu me sentei e comecei a chorar.
simplesmente não conseguia segurar a emoção de ver como era bonito
as lembranças. eu via aquilo e minha própria mente projetava cenas parecidas e que,
juntas, faziam sentido. era algo duplo, nosso.
percebi então que minhas lágrimas eram bolhas. bolhinhas de sabão.
de diversos tamanhos. de diversas tristezas e alegrias.
comecei a sorrir e a lembrar tudo mais uma vez. e como foi especial.
- vamos, não podemos ficar aqui tanto tempo assim.
o mágico gritava lá de cima, me chamando pra ir embora.
então voltei, subindo as escadas feitas por mim, naquele pequeno
espacinho reservado nos seus pensamentos.
entrei no ônibus, que mais uma vez soltava fumaça colorida, o que tornava aquela
mente ainda mais bonita e diferente. era algo extremamente diferente,
como um sonho.
enfim, conseguimos sair. e enquanto voltávamos, resolvemos brindar.
o mágico então fez com que duas bebidas aparecessem em nossas mãos.
a minha, algo verde. e dele, algo vermelho.
bebemos, com os olhos fechados, tentando imaginar o que realmente tinha acontecido
com nós dois. abrimos os olhos, sorrimos um para o outro.
ele abriu a porta do ônibus, lançou uma escada para fora e eu desci, sem pensar muito.
fui para aquela montanha, coberta de neve. caminhei durante horas e cheguei.
lá em cima, eu refletia sobre aqueles momentos coloridos, infantis como um desenho
em giz-de-cera. comecei a cantar aquela canção, tirei do bolso a minha bandeira,
escrevi seu nome nela e a coloquei no topo da montanha.
me sentei e, pensando em você, passei meu tempo ali soltando bolhinhas de sabão.

1.11.03

senta.
levanta.
senta.
muitas vozes. muitas vozes. muitas vozes.
muitas vezes.
o máximo possível.
- número....21!
é o meu. eu consegui.
levanta.
leva o bilhete. o bilhete premiado.
oito minutos e treze segundos.
oito e treze.
ou três setes.
- o número daquela porta era isso, não era?
era. era exatamente isso.
e nunca se pensava que poderia realmente ser verdade.
senta.
põe a mão no rosto de uma só vez.
não, não faz isso. assim é fácil de perceber.
- não chora.
aguenta porque logo vocês já vão estar lá fora
onde a névoa é seca e não existe tempo.
meio cinza e meio escuro, quase negro.
[ às vezes até avermelhado ]
depende.
depende dela.
não depende de você.
você.
ela.
ligue os pontos, por favor.
ou apenas costure pra não deixar sair mais lágrimas pra fora.
"você depende dela."
boa noite.