26.1.04
"o cartaz diz tudo."
se você não diz nada eu digo menos ainda.
eu digo pra você dizer. ou pelo menos saber.
- a nossa foto tá pra lá de amarelada.
a caixa fica vazia até o momento
em que alguém tem que chorar
pra ver se acontece alguma coisa.
dessa forma, as palavras vão surgindo.
e eu fico triste.
não sei até quando vou,
não sei o quanto posso fazer. ou dizer.
tudo soa feio o suficiente pra que
algo seja dito de maneira suja.
pra que eu fique menor.
quando é com você eu procuro.
quando é com você eu procuro.
quando é com você eu procuro.
ingênuo.
- nada é colorido. tudo é preto-e-branco.
saudade existe?
amargo.
só te peço que me diga alguma coisa.
ou essa será mais uma noite de pesadelo.
sozinho.
eu falo demais.
23.1.04
abotoa o último botão da camisa. isso.
agora aperta o eject.
não, esse não. o eject.
isso, esse verde.
por favor, deixa mais um pouco da coberta pra mim.
- pode puxar.
tá. agora me responde.
porque você faz isso?
"eu queria saber fazer as coisas pra você.
te agradar mais um pouco.
ser como você quer."
o bilhete era amarelo, como todos os outros.
- e eu não assino nele.
olha no espelho e põe essa franja um pouco mais pra lá.
tá muito confuso, seja um pouco mais direto com você mesmo.
eu dependo das suas palavras.
desabotoa esse último botão.
deita aqui comigo por mais um minuto.
me dá um beijo?
foi aqui nosso primeiro beijo.
foi aqui.
eu me deito sozinho.
eu penso em nós dois. eu penso,
o suficiente pra imaginar
você ao meu lado mais uma vez.
seus cabelos estão por todas as partes.
e eu nunca precisei tanto de você
como agora.
19.1.04
aparelhos eletrônicos não são bem-vindos aqui.
o carro desligado ainda fazia barulho.
- põe os phones de volta no lugar.
pode me deixar aqui, na esquina mesmo.
agora pode me falar:
- não é das melhores.
- só não sabia que pudesse ser tão ruim.
cabe a você.
- eu estou tonto, veja só como pareço doente.
- você está doente?
- eu adoeci hoje.
e aquelas lágrimas eram cor-de-rosa.
isso, da cor do meu band-aid.
// você chorou o suficiente hoje?
[ risadas no fundo da sala ]
- ninguém viu nada. nada!
é hora de dormir. não pra mim.
eu toco piano e depois vou dar uma volta.
fazer as compras?
ninguém te vê. ninguém pra fazer companhia.
a volta é mais triste ainda.
// o gato te segue com os olhos.
você o vê. ele tem cor caramelo
e está na janela.
sua dona lentamente o retira de lá e fecha a janela.
já fazem dezessete graus.
- são tantas as fotografias!
agora tenho mais. mais e mais.
polaroids preto e branco em um sonho colorido?
"é provável que sim"
diz o doutor.
- você chegou tarde hoje. talvez foi cedo demais.
saudade é o seu cheiro no meu copo d'água.
16.1.04
- a mente é uma palácio, meu caro.
- pois a minha não passa de um pequeno clube de jazz.
- como pode dizer coisas assim?
- tu não percebeste? não há nada mais lindo que o jazz.
e foram essas suas últimas palavras naquele dia.
voltou a pé pra casa, pois não não sabia dirigir.
tampouco tinha um carro.
- tudo bem, eu não preciso de você!
gritava seu silêncio, num tom grave.
esperava sempre o telefone tocar,
embora soubesse que ele jamais tocaria.
- é uma dor tão profunda quando se
tem alguém e mesmo assim parece
não ter ninguém.
dessa vez, já passava da meia noite.
naquela noite não esperou até as três,
como de costume.
logo tirou o telefone da tomara.
"ele nunca mais vai tocar." - pensou.
não mais iria poder ouvir o jazz,
que tanto amava.
o último beijo foi na fotografia
de quem tanto esperava e, no entanto,
nunca ligou.
¹
²
³
14.1.04
"assim mesmo."
nervosismo e ansiedade.
duas coisas nulas, ou cheias.
importância pode variar.
- por favor, deixe meu lençol em paz.
sim, porque agora é hora de dormir.
por enquanto eu posso sonhar por um tempo.
você pode ouvir?
posso dizê-lo, você nunca vai entender.
polonês, não russo.
escuta o "clic".
agora sim, pode parar de sorrir.
eu quero respirar por alguns segundos a mais do que ontem.
ouvir você falar.
ver você olhando pra mim. te sentir.
te sentir mais uma vez.
tão bom quanto já foi.
tão especial quanto ainda é.
olha só, olha quem vem descendo as escadas.
a chuva. ela vem, mais uma vez.
[ apesar dos trinta e seis graus ]
eu rasgo o envelope com sutil rapidez.
eu vejo uma carta amarela com palavras confusas.
suas palavras. seus desejos.
minhas tristezas.
doze menos dois
são números velhos
eu disse números novos
eu quero parar de chorar
ouve-me ir
estou chegando
parece o telefone
tocou alguma coisa
deixei cair aquele disco
escutei a sua voz
agora é minha vez.
11.1.04
o prato esfriou.
a conversa morreu.
e eu me perco sem você.
me perco sem você falar.
e eu sinto saudade.
na parede do quarto eu
vi escrito, com letra cursiva:
"agora são três."
pois eu sei de gente que gosta.
- me dá licença.
eu sempre disse que
era sensÃvel demais.
agora talvez uma turbina
de avião pode ter caÃdo
no meu quarto.
ou pode ser tudo um sonho
prolongado.
"como naquele filme."
como uma festa.
as respostas feias.
talvez eu possa esperar mais um pouco.
mas eu preciso.
do seu beijo e do seu abraço.
quem sabe assim
eu pare de brincar com as palavras.
[ doce? ]
parece que é torto. e na verdade é sim.
e não deixa estragar não.
manchou a camiseta. um pouco de molho.
não deixa manchar mais do que isso.
o pior já passou.
o que te faz pensar que sim?
bons tempos aqueles que as palavras
eram bonitas e que você era mais feliz.
agora começou de novo.
eu queria tocar cello pra você ver
que as coisas podem ser bonitas
e que é pra viver.
viver.
e você sabe, ah, você sabe sim
o que é importante.
você sabe.
você.
9.1.04
hoje eu me esqueci como dizer.
me sentei na cama e chorei.
[ por duas vezes ]
e ninguém viu.
tem um dente sorrindo.
desenhos.
folhas com pautas,
ou sem elas. cores sortidas.
você e eu, de mãos dadas.
abraçados.
eu e você.
sente a chuva?
"do lado de cá ainda não caiu."
abre o pacote de balas.
deixa todas cair no chão.
depois, calmamente, recolhe
uma a uma.
um grito:
- por favor, me salva!
era só eu. e eu preferia estar
sonhando agora com você.
mas é verdade.
- e é só um conselho.
vira a página, que do outro
lado tem nós dois.
sensÃvel.
sim, isso mesmo.
aquele dia importante.
aquele dia.
se lembra?
eu queria estar ao seu lado.
pra poder sorrir um pouco mais,
ou só pra ver seu sorrido mesmo.
só pra te ver. e ficar junto de você.
porque assim eu me esqueço um pouco.
e quem sabe,
então,
ponho meu chapéu, visto o paletó e,
de mãos dadas, nos beijamos.
pra depois de tudo isso,
a gente tirar mais uma foto.
mas é tudo imaginação.
você está aÃ.
e eu estou aqui.
8.1.04
o rádio cospe música.
- parece mambo.
o menino deitado lê os olhos dela.
ela não lê nada, apenas disfarça.
"finge."
quatro fotografias caem no chão.
duas vezes
mais
duas vezes você.
talvez nenhuma vez eu.
"talvez", ele disse.
a faca dessa vez é a da manteiga.
corta bem devagar.
- em pedacinhos, por favor.
agora sim, as risadas entopem
o quarto.
um monte de bilhetes pregados,
todos com o mesmo número.
parece ser de um telefone.
"alguém acredita em mim?".
- e você não viu. você não me viu.
fazer alguma coisa. fazer alguma coisa.
repetidas vezes.
as palavras só existem nesse idioma (!)
[ como falo então? ]
amarra uma meia na outra e se joga.
hoje é dia de sentir saudade.
pelo menos ouvi dizer que sim.
- então eu sinto.
o calendário parece andar de trás pra frente.
mas uma hora ele pára. ou vai.
"se engana agora."
- volto, volto.
larga esse copo na mesa e me abraça.
pensa?
[ eu ]
eu quero voltar.
me põe o cinto e liga as turbinas.
vamos, porque o céu ainda é cor-de-rosa.