24.2.04
trinta e cinco sorrisinhos.
- bla bla bla?
tá, então hoje eu te deixo em paz.
se isso te agrada tanto.
desculpa a agonia.
é que tem horas que eu quero
conversar com você.
não leva isso a mal.
eu fico triste mesmo.
você nunca imaginou que eu
fosse precisar tanto das suas
palavras né.
pois é.
eu também não suspeitava.
mas a gente inventa um diálogo.
qualquer que seja, pra animar.
pra fazer as crianças soltarem
aquelas gargalhadas gostosas de se ver.
[ algo pra representar um sorriso aqui ]
olha só, você nem se lembra.
olha só, você nem se lembra.
eco.
às vezes as coisas são assim.
e você nem vê, porque é melhor que
não veja mesmo.
um, dois, três pontos e pouco a me dizer.
um um.
um hum.
[ outra coisa pra representar sorriso aqui ]
eu te machuco de vez em quando.
- mas posso garantir que é sem querer.
queria sempre te fazer sorrir.
queria sempre te fazer ouvir.
traço.
põe um ponto final na conversa, vai.
esquece, deixa isso pra lá.
"será que amanhã a chuva vai passar?"
- ah, se não passar a coisa complica.
- sei lá.
sei lá.
sei lá.
sei lá.
pára.
19.2.04
achei!
eu leio todas as palavras.
dois pontos
eu era mais feliz.
ou falava mais um pouco do que agora.
- mas a gente não.
não
mas tinha alguma coisa de criança em mim.
e hoje não.
[ ah se escondeu ]
"entende porque eu sorria?"
- foi você, não eu.
- fala comigo.
[ não de mim - pensou / pensei ]
as suas palavras não me dizem nada
palavras me dizem
qual o modelo de hoje?
algumas gotas a mais de água [ forma: sólida ]
improvisei aquele momento, naquele momento.
e dei gargalhadas num volume alto,
até que todos percebessem (ou só achassem)
que eu estava extremamente feliz e satisfeito.
amanhã eu te falo tudo direito.
- hoje você tem sono e cansaço.
"e também, a chuva já passou mesmo.
não temos porque."
rasga as partituras do piano
e começa a chorar.
18.2.04
se apegou.
não teve jeito.
diga x pra mim.
- eu digo eu te adoro em francês,
[ pode ser? ]
pode ser qualquer coisa,
desde que você toque aquele
antigo standard de jazz pra mim.
- tá, eu toco no trumpete.
- mas depois canta.
- canto.
parentêses: é que ela nem sabia
a diferença entre gostar e gostar.
a lacuna talvez nunca fosse preenchida
e ele sabia que, de alguma forma,
teria que sorrir todos os dias.
* olha, coloca a tristeza nessa caixa.
pronto?
agora sacode bem, fecha e taca nesse
rio azul. (ou verde)
clic
pronto.
- linda. você tambêm né.
- de alguma forma a gente ainda tem que sorrir né.
- eu te faço cócegas.
- não, eu disse sorrir.
não é assim que se sente.
visto a camiseta de dois botões pra isso mesmo.
[ me fala as coisas ]
tudo.
- pequeno a gente é e você sabe disso.
- tá tá, eu faço a barba amanha, pela manhã.
- e prepara o café, que eu me cansei.
e o que eu não faço por você, han?
9.2.04
É que agora não dá mais pra perceber. Mas já fazem
quase quatro meses ou algo assim. Eu me sentei,
roubei seu album e olhei umas cinco, seis vezes
cada detalhe de cada pedaço de papel escrito.
Então fez sentido o suficiente pra eu pegar um disco
da estante e colocá-lo no estéreo. Foi o suficiente também
pra que torcer o meu lenço, ou até mesmo colocá-lo no varal
pra secar. Eu resolvi colocar meus sentimentos lado a lado
com as minhas memórias, até porque dificilmente eles se separam.
Quinze sorrisos seus e algumas lágrimas minhas. Enquanto soavam
as cornetas mais tristes do universo eu me deitava a seu lado,
e você, de costas pra mim, tinha uma aparência tranquila e, de
certa forma, seus olhos fechados eram tão lindos que nesse
exato momento eu comecei a chorar.
Passavam das três da tarde e eu pensava até quando aquela
cena se repetiria, ou até quando você iria dizer aquelas palavras
doces que sempre me derretiam. No fim das contas, era sempre
muito triste pensar em você indo embora e me deixando sozinho,
mesmo sendo necessário. Não conseguia entender qual era o motivo
das horas passarem tão rápidas e eu não conseguir parar o tempo
pra que, por mais uma vez, eu te beijasse.
Talvez esse fosse o principal motivo das minhas lágrimas.
Talvez não.
Dizem que elas são salgadas, mas, nesse caso, elas nunca
foram tão doces.
Porque nós somos duas crianças, vestidas a caráter. Eu tiro
uma foto sua hoje e amanhã outra. Você me entende né?
Eu queria dizer algumas coisas, que são tão importantes quanto você.
Mas ainda não chegou a hora, ou ainda não chegou a coragem.
Enquanto isso, eu vejo você dormir, e tento, cada vez mais, ser seu.
Cada vez mais, ser só um.
É que agora não dá mais pra perceber. Mas eu me lembro de todos os
quatro meses.
Me dá um beijo, hoje eu preciso dele pra dormir. E, assim como todos os outros
dias, eu preciso de você aqui, pra me fazer dormir um pouco melhor.