28.7.05
Subiu ao ônibus maquinalmente, como fazia todos os dias às seis e doze da tarde. No fone de ouvido, o peso da calmaria imposta pelo último disco de uma de suas bandas preferidas. Foi surpreendido pelo ar da novidade e também pelo encontro que sem ser combinado, que pegou seu estômago desprevenido.
Ela devia ter uns 20 anos, no máximo. Cabelos castanhos, compridos, o rosto macio e perfeito. Aos poucos, foi tomado por uma nostalgia de proporções gigantescas. Talvez por isso, sentiu o resto de jovialidade que havia em seu corpo desaparecer triste e lentamente. Por quarenta e cinco minutos, tudo pareceu antigo e deslocado. Uma tristeza que há muito não sentia, instalava-se agora em seu peito.
8.7.05
Eram oito da manhã quando o despertador tocou. No quarto escuro com ar viciado tento me manter deitado debaixo das cobertas, mas logo percebo que estou atrasado. "É a terceira vez em três dias", penso. Sinto uma leve dor de cabeça, que logo se mistura a uma estranha sensação de prazer e tristeza. "Deve fazer 10 graus lá fora", tento esquizofrenicamente mudar de assunto.
No banho, reflito os acontecimentos dos três sonhos, mas não consigo sequer organizar uma linha de raciocínio decente. Sinto-me pesado, a água custa a esquentar. Os motivos não são claros, os pensamentos tampouco. Afinal de contas, um perfume pode ser sentido através de um pensamento? Talvez uma lembrança? Nunca consegui te colocar numa caixa cor-de-rosa lacrada por um laço preto e, embora ambos saibamos disso, não tocaremos no assunto. Não mais.
1.7.05
Ah, são apenas sensações. Se pudessem ser um pouco mais do que isso (e realmente já foram), talvez me sentiria mais leve. Como já me senti. Imaginei-me deitado ali, pensando.
Porque sempre ao ouvir CocoRosie tenho a sensação. Seis da manhã misturado a um sono leve, meio acordado, meio dormindo. A janela aberta, o sol tímido entrando, o gosto de Toddy com leite gorduroso na boca, o cheiro no ar do pão de ovo com requeijão quentinho. Seis da manhã e ela dorme. Meu braço começa a ficar dormente, mas eu nem ligo. Imagino que daqui há alguns minutos serão apenas lembranças. Ou apenas sensações. E por isso vai parecer que nunca aconteceu, o que apesar de tudo tem um lado bom. Bate um vento fresco, eu fecho os olhos e me cubro. São seis e meia, penso, por que tenho que me levantar? Meus olhos continuam fechados e o disco alcança a sétima música, quase inaudível de tão baixa.
Uma vez eu me apaixonei por você, só porque o céu mudou de cinza para azul. Durmo.