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sicastenia, s. f. Fraqueza intelectual; Psicose causada por fases de medo e ansiedade, obsessões, idéias fixas, tiques, auto-acusação, convergência de emoção e depressão.

 
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24.2.06

Olhei para o céu e contei até três de olhos fechados. No três, abri meus olhos e sorri. O sol me impedia de abri-los completamente. Eu preciso de te ver outra vez, gritei. Encontrava-me sozinho. Ouvi um barulho e virei pra trás. Coloquei a mão direita acima das sobrancelhas, para que pudesse observar o barulho que vinha da árvore maior. Eram apenas pássaros que abandonavam os galhos e voavam. Naquele instante, me desapeguei da vida. No celular, cerca de cinco ou seis chamadas não atendidas e mensagens de texto e voz me irritavam. Eu não queria atender nenhuma delas. Joguei o aparelho longe, bem longe. Lancei-o como se fosse uma pedra. Corri, usando toda minha velocidade enquanto, na minha cabeça, ouvia o som de um piano triste tocado por um homem de meia idade com uma barba impressionante. Era francês. Corri e encontrei uma ladeira. Uma queda de quarenta e dois metros e meio, segundo a placa. Pulei.

23.2.06

Na secretária dela, deixou um recado pedindo pra que voltasse pra casa. É tarde demais, pensou e, mesmo tendo algum tipo de esperança, no fundo sabia que era tarde demais. Repousou os óculos na estante. Colocou as lentes de contato e saiu. No caminho, observava as ruas e as àrvores. Gostava daquele momento pré-chuva, em que as folhas balançam e as pessoas correm para pegar seus pertences ou se esconder da água que está por vir. Gostava disso. No carro ao lado, um homem passava um barbeador elétrico em seu rosto. Estava em um Honda última geração. Virou o rosto e observou os carros, os policiais e os ônibus. Todos aparentavam pressa e irritação, embora, pensou ele com desgosto, nenhum deles tenha passado as últimas semanas em casa comendo comida congelada. Sozinho. Os dias se passaram lentamente. Nada. Não retornou as ligações. Decidiu, então, ligar uma última vez. Ela não atendeu. A secretária eletrônica deu o sinal. Sem pensar, deixou as primeiras palavras que estavam na ponta da língua: "lembre-se de mim".

21.2.06

Pensava nas mulheres mais bonitas que havia conhecido até hoje. E pensava de maneira desigual para cada uma delas. Sem hipocrisia, tentava levar em consideração todos os fatos possíveis que o deixavam daquele jeito. Gostava muito de conversar e de sentir frio na barriga, e gostava de imaginar um monte de cenas em sua cabeça. Fingia estar tudo resolvido, quando na verdade ainda estava num ponto inicial.

- Bom dia. - ela disse, num tom assustado ao abrir a porta.
- Bom dia! Vamos passear na neve? - falou animadamente, abrindo os braços.
- Já está nevando lá fora? - disse enquanto bocejava. Tinha olheiras enormes. Estava sorrindo.
- Sim, sim. O inverno chegou. Vem, me dá sua mão.

Saíram correndo pela neve que cobria o jardim da casa dela. Ele, desastrado como sempre, tropeçou e caiu, levando ela ao chão fofo e branco. Quase sem querer, se beijaram. Foi o primeiro beijo deles. O primeiro, esperava ele, de muitos.

14.2.06

Será que havia algum problema em ser sozinho? Era tão bom descobrir um disco novo de alguma banda nova, ou qualquer coisa do tipo que fosse. Se imaginou de boné de caminhoneiro numa cidade chamada Modesto, no interior da California. Lá, escrevia centenas de cartas endereçadas à ele mesmo, talvez para vencer a solidão à qual os outros inventaram. Tinha o primeiro de todos os Game Boys e se orgulhava disso, já que duas horas de seu dia eram destinadas ao tal videogame portátil. O verão havia passado rapidamente e seu cachorro, um labrador imundo, havia morrido cerca de cinco semanas atrás. Caminhava todos os dias pela cidade, encontrando bêbados atirados pelas calçadas sujas de vizinhanças pobres porém agradáveis de se morar. Sabia se virar sozinho e, mesmo que tivesse algum problema, não poderia ser tão grande assim, uma vez que não tinha ninguém para conversar. Era feliz.

12.2.06

Vi um rato morto na rua. Não reconheci o que era num primeiro momento, mas quando consegui ver senti um estranho estremecer por todo o corpo. Talvez tenha sido uma pista do que estava pra acontecer, mas provavelmete era só um rato morto, duro e molhado na calçada. Lembrei que costumava me preocupar com um monte de coisas, muito embora soubesse que jamais chegaria a lugar algum. Independente disso, ouvi no repeat uma de minhas músicas preferidas, pra tentar esquecer o fato de que as coisas mudaram, bebi um litro e meio de água mineral e fiquei sentado esperando a vida passar diante de meus olhos. "Os melhores momentos são aqueles os quais não participamos", pensei. De todos os meus erros aquele talvez era o pior e não havia muito o que se fazer. Tentei fingir não entender o que se passava, mas as pessoas sacaram. Elas sempre sacam. Tive pesadelos iguais aos de uma criança em torno dos seis anos, e acordei pensando estar no céu. Mas não estava.

6.2.06

Procurei por todos os cantos, em vão. Até pensei em te convidar pra um café, mas acho que isso seria, de alguma forma, proibido. Fiquei fazendo linhas de baixo imaginárias para músicas tão imaginárias quanto, tentando refazer sua imagem em minha mente. Não conseguindo me lembrar perfeitamente de seu rosto, decido continuar andando. Sem rumo, entrei em um arcade qualquer, onde bêbados se revezavam em jogos dos anos 90 e crianças estranhas compravam mais fichas para satisfazer o seu vício por jogos de corrida e luta. Uma placa ao lado do caixa avisava:

"Uma pequena percentagem de indivíduos pode ter problemas epiléticos quando expostos a certos padrões de luz, ou luzes que piscam. A exposição a certos padrões ou imagens em uma televisão pode induzir estas pessoas a estes ataques epiléticos".

Tentei imaginar o que você diria ao ler o aviso, sem êxito. Me lembrei da sua risada, o que me trouxe um conforto grande e me fez correr para casa. Sem motivo aparente, peguei um disco qualquer na prateleira e coloquei pra tocar. Fiquei esperando uma mensagem vinda de você mas, sem perceber, adormeci.

1.2.06

Coloquei o fone de ouvido e fingi que não era comigo. O volume mais alto que eu podia aguentar naquele minuto. Era o trigésimo quinto andar e eu só queria olhar um pouco pela janela e ver a vida lá fora. Eu sabia que não havia ninguém me esperando, mas isso já não era novidade. Havia um monte de borboletas próximas a janela e, embora eu não soubesse que nome dar a um monte de borboletas próximas a uma janela, era possível ver beleza naquilo tudo. Eu tentei te avisar mas parece que eu estava errado, não havia muito o que fazer. As borboletas podiam voar e eu estava ali, preso a trinta e cinco andares de um chão o qual eu pudesse confiar. Um chão o qual eu pudesse confiar.