4.3.06
Pareciam se encaixar. Era um cara legal, sem dúvida. Poderia não ser o mais legal entre todos os amigos legais dela, mas definitivamente era legal. O começo de tudo, de alguma coisa que ele poderia fingir que um dia ia dar certo. Trocaram telefones e jogaram conversa fora, há inúmeros outros jeitos de se comunicar sem dizer nada, ela repetia o que seu professor havia dito aos alunos poucos dias atrás. Me dê suas mãos, me dê um abraço, pensava, enquanto observava seus lábios mexerem sutilmente. De alguma forma, resolveram conversar por conversar. Foi assim que as coisas aconteceram, e foi assim que ele colocou os fones nos ouvidos, escolhendo um disco antigo pra ouvir enquanto caminhava lentamente no caminho de volta pra casa. Nesse dia, dormiu cedo. Havia perdido as esperanças.
3.3.06
Chorou vendo os Strokes pela TV. E foi isso.
1.3.06
Sentia uma fraqueza inexplicável diante da aparente chuva que estava por vir. Gostava de vozes nórdicas, e de colocar vozes nórdicas para tocar no seu aparelho de som. São as mais belas, costumava dizer, sempre num tom intelectual que na verdade soava bobo e vago. Apesar dos trinta e três graus lá fora, o céu começava a escurecer exatamente às quinze e quarenta e três da tarde. Não era uma escuridão qualquer, mas uma escuridão que dava a impressão de que as coisas mudariam dali pra frente. Pra pior ou melhor, ninguém sabia ao certo. Fazia apostas mentais sobre o caso, apostas mentais infantis que preferia guardar consigo mesmo. Tinha vergonha de suas palavras. Se envergonhava de suas ações. Não tinha vergonha, porém, de estar apaixonado. Não sabia onde estava se metendo e, caso soubesse, não estaria ali, observando pela janela as folhas das árvores caindo, anunciando o temporal. Se fosse fácil assim, pensou, cerrando os olhos com força desnecessária, enquanto fechava a janela. Os primeiros pingos da chuva começavam a despencar do céu.