24.8.06
Já era tarde. Coloquei meu pijama e decidi sair. Deixei a porta destrancada, quem sabe você voltaria, eu pensei, quem sabe a saudade funcionasse como um imã, pelo menos dessa vez. Além disso, não tinha bolso onde pudesse colocar minhas chaves. Eu só podia andar pra lugar algum, andar e observar a lua. Mas não consegui ver a lua, não consegui ver estrelas. Estava nublado e frio. Lembrei que havia deixado a malha que você me deu em casa. Você nunca gostava de me ver desagasalhado. Também pensei nisso, mas continuei andando. Pensei nas músicas que você gostava, e nas músicas que eu gostava de ouvir com você. Cantarolei algumas delas. Então começou a chover, você gostava de chuva e eu também. Pensei sobre um monte de coisas. Minha cabeça funcionava freneticamente, mais do que o normal. De repente parei. Havia uma praça, a chuva caía forte e eu estava de pijama, ensopado, com os braços entrelaçados sobre meu corpo. Senti ciúme. Tentei recordar todas as vezes que havia sentido ciúme, mas desisti. Não havia porquê, mas eu simplesmente não entendia um monte de situações, e os motivos pelos quais elas aconteciam. Sentei-me no primeiro banco que encontrei. Parei de pensar em tudo, estava apenas estático, uma de minhas lentes já tinha ido ao chão, eu tremia de frio. Então pensei em você. Era o melhor que eu poderia fazer, pensar em você e deixar todo o resto de lado, imaginava que isso me confortaria de alguma forma. Sabia que não agüentaria andar na chuva se perdesse você, sabia que não poderia mais pensar em ciúme se você não estivesse mais do meu lado. Com passos rápidos, voltei pra casa. Procurei pela malha assim que cheguei, a malha colorida que você tinha me dado de presente. Não estava mais lá.